quarta-feira, 5 de novembro de 2014

HÄXAN A Feitiçaria através dos Tempos de Benjamin Christensen - 05.11.2014 - 19h00



(...) Uma das coisas mais desarmantes do filme de Christensen é o seu “pretexto”, ou por outra, a maneira como esse pretexto é apresentado. Estaríamos, conforme é anunciado no princípio e, de resto, praticamente em toda a primeira bobina, num território “didáctico” e “informativo” (quase “documental”, dir-se-ia), em jeito de dissertação sobre a história da feitiçaria e da superstição ao longo dos tempos. Como se fosse uma projecção de “slides”, e as explicações orais (ou escritas, neste caso) alternassem com a ilustração por imagens, o primeiro quarto de hora mergulha em tradições ancestrais, mostrando figuras arquetípicas (mormente, o Diabo himself) e o modo como diferentes culturas as descreveram. Só depois passamos à reconstituição “viva” dessas histórias de superstição, num esquema narrativo que, se começa por isolar exemplarmente (em arrumação cronológica, exacta ou suposta) os episódios que descreve, às vezes como num filme de “tableaux”, não tarda muito em começar a misturar tudo, a gizar paralelismos e a tecer alusões, transformando decisivamente o filme naquilo que ele, de facto, é: um poderosíssimo, alucinado e alucinante, desfile de um imaginário da feitiçaria e do satanismo, alimentado em igual dose por mitos cristãos e mitos pagãos, ecoando ao mesmo tempo as manifestações culturais e artísticas desse imaginário (a pintura, naturalmente, com Bosch a ser a referência mais evidente em diversos momentos).(...)
Luís Miguel Oliveira
in Folhas da Cinemateca