sexta-feira, 1 de novembro de 2013

UN HOMME QUI DORT - Georges Perec e Bernard Queysanne - 07.11.2013 - 19h30


(...) “Deixa de falar como um homem que sonha. Olha.” É das últimas frases que ouvimos em Un homme qui dort, mas é também, de certa forma, a primeira. A partir desse “olha”, está todo um mundo à nossa volta, e que nos mostra que o homem só é um homem face ao seu cinema e, ao mesmo tempo, um homem que se encontra dentro do seu cinema, movimento interior de inquietações, sonhos, dúvidas e secretas esperanças, e que se torna em algo de vivo e urgente, por sobrevivência, quando se afasta do mundo e dos outros.

Por ser sempre móvel e sujeito à nossa reinterpretação (como é da natureza do próprio cinema), esse olhar do homem que dorme - logo, que esconde em si o sonho - pode também ligar-se a um outro, do outro lado do espelho: o de Nana em Vivre sa vie (1962) de Jean-Luc Godard, realizador cujos filmes eram sempre cinema e sobre o cinema, quando esta diz: “Levanto a minha mão, sou responsável. Viro a cabeça, sou responsável. Estou triste, sou responsável. Fumo um cigarro, sou responsável. Fecho os olhos, sou responsável. Esqueço-me que sou responsável mas sou. Afinal, tudo é bonito, só preciso de me interessar pelas coisas e achá-las bonitas. Afinal, as coisas são como são. Uma mensagem é uma mensagem, os pratos são pratos, os homens são homens, e a vida é a vida.” Uma forma de colocar as palavras que reconhecemos no filme de Perec e Queysanne, por serem as palavras de alguém que se coloca perante si mesmo, face ao mundo - alguém que se sente fora dele mas que sabe, afinal, que este o rodeia sempre, continuando a influir nas suas acções, nos seus gestos, no seu pensamento. Sem ele, o cinema não vive e nenhum de nós vive, adormecidos ou acordados no sonho constante da nossa solidão.
Francisco Valente
Lisboa, Novembro de 2014



L'insolite m'attire.
Mais à la question "Qu'est-ce que l'insolite?" je n'ai pas de réponse. Je n'en ai pas d'autre que celle qui le définit communément comme appartenant à l'inhabituel.
Je sais cependant qu'il se découvre, comme le fantastique se crée, s'exprime, en donnant à l'image émouvante une signification ressentie mais dont on ne perçoit pas le sens.
Il est l'inconnu, le vide hanté, l'in-action. Il suscite l'émotion et l'angoisse.
Nous voilà dans le climat de Un Homme qui Dort.
Mais l'insolite et son expression esthétique, la poésie, échappent à l'analyse et, par conséquent, pour ceux qui veulent s'y risquer, à la critique.
Il est dans Un Homme qui Dort par l'image, c'est à dire par la fascination, l'irréalité retrouvée de la photographie monochromatique noire et blanche, par la parole et par les accords image-parole, une manifestation de la beauté dont on peut affirmer qu'elle commence là où l'analyse s'arrête.
Ainsi je fais l'aveu d'être réduit à ces affirmations sans preuves à propos d'un film qui peut être refusé mais restera incontestable, et que je tiens pour une exceptionnelle réussite de cinéma onirique. (...)

Georges Franju
tradução em curso