sexta-feira, 11 de novembro de 2011

LE TEMPESTAIRE de Jean Epstein - 15.11.2011 - 19h30


Foi preciso Epstein morrer para se lembrarem que ele tinha vivido. (...) E seria preciso esperar que Epstein desaparecesse para que as pessoas se interrogassem: não era um génio? (...)
Hoje em dia, é impossível negar-se a importância desta obra, depois da projecção do Festival de Cannes onde tanta gente de boa fé se entreolhava, admirada, perguntando porque é que nunca tinha visto Le Tempestaire. (...)
Quando incluí Le Tempestaire no programa de curtas metragens do Museu, toda a gente me pediu encarecidamente que o retirasse por respeito à memória e à obra de Epstein. Ora nenhuma dessas pessoas o tinha visto e hoje são os primeiros a perguntar porque aberração é que se tinham recusado a vê-lo. Sejamos honestos. Não se trata de uma aberração; foram todos vítimas, inclusive Epstein, de uma conspiração: a conspiração da estupidez, da ignorância, do analfabetismo cinematográfico, dos preconceitos de um ofício que nunca olha para trás nem para a frente. Este filme estava demasiado acima de certas cabeças, era demasiado rico para certas mentes, demasiado pesado para certos estômagos, demasiado puro para certos corações e estas pessoas passaram palavra, ajudadas por imbecis que se pretendem inteligentes, dando ao filme uma tal reputação que todos os que o poderiam entender tiveram medo, por amor a Epstein, de o ver. (...)

Le Tempestaire, há que reconhecer, não é nem um filme de ontem nem um filme de hoje. O que impressiona é a sua profunda poesia, a sua ressonância humana e o extremo equilíbrio da sua composição. É uma obra que demonstra o que poderia ser o cinema se algumas pessoas não estivessem mortas, se outras não estivessem condenadas ao silêncio, se o Estado cumprisse a sua tradição, esquecesse os conselhos dos seus peritos, dos seus contabilistas, dos seus pensionistas, dos seus turiferários e se lembrasse que o sector nacional tem de ser bem gerido produzindo obras compensatórias mas também que os benefícios devem permitir o progresso do cinema.
Henri Langlois
Cahiers du Cinéma, nº24 - 1953
in catálogo "cinematografia - musicalidade 1"
Lisboa, Novembro de 2011